Trabalhos a céu aberto: como garantir a segurança climática

Ultima atualização: 01.08.2025

Profissões que exigem atividades ao ar livre — como construção civil, manutenção de infraestrutura, serviços de energia e logística — estão diretamente expostas às mudanças climáticas. Nesse cenário, o cuidado com a segurança do trabalho se torna ainda mais urgente, principalmente em um país como o Brasil, onde os extremos climáticos se tornaram mais frequentes.

Para além da proteção imediata, é fundamental que empresas se antecipem às condições climáticas adversas e adotem estratégias que preservem a saúde dos colaboradores, cumpram as exigências legais e garantam a continuidade das operações com segurança.

Trabalhos a céu aberto: por que o clima é um fator de risco?

O ambiente externo traz variáveis que não podem ser controladas — e por isso exigem preparo constante. Exposição ao sol por longos períodos, chuvas intensas, ventos fortes, frio ou calor extremo impactam diretamente a saúde, a produtividade e até a segurança das equipes.

Essas situações podem causar desde desconforto físico até acidentes graves ou doenças ocupacionais, como desidratação, queimaduras solares, hipotermia, exaustão térmica ou problemas respiratórios. Em um ambiente exposto, qualquer descuido pode resultar em um afastamento, um processo judicial ou, nos casos mais críticos, até mesmo em fatalidades.

O que a legislação diz sobre isso?

A legislação brasileira considera os riscos ambientais e climáticos no ambiente de trabalho. A Norma Regulamentadora nº 9 (NR-9), por exemplo, determina a obrigatoriedade de um Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), que deve incluir a identificação e avaliação de riscos físicos, como temperaturas extremas.

Além disso, a NR-21 trata especificamente do trabalho a céu aberto, exigindo medidas de proteção como fornecimento de abrigo contra intempéries e locais adequados para refeições e descanso. Já a NR-15 estabelece limites de tolerância para exposição ao calor, considerando fatores como a carga de trabalho e o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs).

Essas diretrizes reforçam a responsabilidade legal das empresas em garantir um ambiente seguro, mesmo quando a natureza do trabalho envolve exposição direta ao clima.

Como as condições climáticas afetam os trabalhadores?

As condições climáticas adversas afetam os trabalhadores de formas diferentes, dependendo da atividade e da região do país.

Altas temperaturas, por exemplo, provocam desidratação, exaustão térmica e até insolação. Isso sem falar no agravamento de doenças preexistentes, como a hipertensão. Já o frio intenso pode causar hipotermia, redução da destreza manual e acentuar dores articulares ou problemas respiratórios.

Chuvas constantes comprometem a visibilidade e aumentam os riscos de quedas, choques elétricos, contaminações e atrasos operacionais. Ventos fortes representam risco de queda de estruturas ou movimentação inesperada de ferramentas e objetos soltos. A baixa umidade do ar, por sua vez, afeta as vias respiratórias e pode gerar quadros de irritação nos olhos, ressecamento e até aumento da incidência de doenças respiratórias.

Esses impactos físicos vêm acompanhados de consequências operacionais: paralisação de atividades, afastamentos, aumento de acidentes e até processos trabalhistas. Por isso, o clima não pode ser visto apenas como um obstáculo pontual, mas como um fator de risco que deve estar previsto nas rotinas da empresa.

Como a empresa pode se antecipar?

Antecipar-se ao impacto das condições climáticas não é apenas uma questão de cuidado com a saúde — é estratégia. Empresas que colocam a segurança como parte da sua cultura conseguem responder melhor às variações do clima e manter a produtividade com mais estabilidade.

O primeiro passo é contar com ferramentas de monitoramento climático em tempo real. Aplicativos e plataformas de previsão do tempo ajudam a planejar as atividades do dia ou realocar tarefas quando há risco de tempestades, calor extremo ou ventanias.

Além disso, é essencial investir em treinamentos que ajudem os colaboradores a identificar sinais de exaustão ou mal-estar, e a comunicar riscos com agilidade. O uso de EPIs deve ser adaptado conforme o clima — como roupas leves e que bloqueiem os raios solares no verão, e vestimentas térmicas no inverno. Locais de sombra, hidratação frequente e pausas regulares também devem ser considerados como parte do planejamento da jornada.

Outra frente importante é revisar frequentemente os documentos de saúde e segurança do trabalho, como o PGR (Programa de Gerenciamento de Riscos), e garantir que as condições climáticas estejam contempladas como riscos relevantes.

Segurança climática é responsabilidade de todos

O cuidado com o clima não pode ser uma preocupação apenas do time de segurança do trabalho. Supervisores, gestores operacionais, RH e até o time de planejamento estratégico devem estar envolvidos no fortalecimento de uma cultura que priorize o bem-estar e a integridade física dos trabalhadores.

Empresas que adotam uma postura proativa conseguem não apenas reduzir acidentes e afastamentos, mas também construir um ambiente mais confiável e produtivo. Em tempos de mudanças climáticas cada vez mais evidentes, a prevenção precisa ser parte da estratégia — e a segurança climática, uma prioridade na gestão de pessoas.

Autora: Julia Evora da Costa Batista | Analista de Gestão de Terceiros na Bernhoeft.