Impactos, Desafios e Oportunidades para o Setor de Tecnologia com a Reforma Tributária

Ultima atualização: 27.05.2025

Impactos, Desafios e Oportunidades para o Setor de Tecnologia com a Reforma Tributária 

A Reforma Tributária aprovada no Brasil marca uma das maiores transformações fiscais das últimas décadas. E, para o setor de tecnologia — dinâmico, escalável e com alto grau de complexidade nas operações —, os impactos vão muito além da simples substituição de tributos.

Estamos diante de uma mudança que exigirá revisão de modelos de negócios, reestruturação de precificação, adaptações em contratos e uma nova lógica para o aproveitamento de créditos. Empresas que atuam com SaaS, marketplace, serviços digitais e licenciamento de software, por exemplo, terão de lidar com uma tributação mais próxima do destino do consumo e com regras mais rígidas de compliance.

Se por um lado isso representa desafios operacionais e riscos de aumento de carga tributária, por outro, abre espaço para simplificação, ganho de eficiência e oportunidades estratégicas, especialmente para empresas que souberem se antecipar. Neste artigo, analisamos os principais pontos da Reforma que afetam o setor, os impactos esperados e como as empresas de tecnologia podem se preparar — e até se beneficiar — nesse novo cenário.

1. Modelo de negócio e regime tributário: desafios com a não cumulatividade

A Reforma Tributária propõe um novo sistema baseado na não cumulatividade plena, que substituirá tributos como PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS por dois novos impostos: a CBS (federal) e o IBS (estadual e municipal). Na prática, isso significa que os tributos serão cobrados sobre o valor agregado — permitindo o aproveitamento de créditos sobre insumos e custos relacionados à atividade-fim da empresa.

Hoje, muitas empresas do setor de tecnologia estão enquadradas no Lucro Real, mas nem por isso recolhem PIS e Cofins no regime não cumulativo. Há casos em que, por estratégia ou por exigência legal, optam ou são autorizadas a recolher esses tributos de forma cumulativa, com alíquota reduzida e sem direito a créditos. Essa opção será extinta com a reforma, forçando todas as empresas a entrarem no modelo não cumulativo e impactando diretamente a estrutura de custos e de precificação.

Com a implantação do novo modelo, o maior desafio será a restrição à apropriação de créditos sobre despesas com mão de obra — custo que, para empresas de tecnologia, representa boa parte da operação. Como a folha de pagamento não gerará direito a crédito de CBS e IBS, a carga tributária pode aumentar de forma significativa, reduzindo a margem de lucro.

Em outras palavras, a Reforma cria um modelo que, ao mesmo tempo em que busca simplificar, penaliza setores intensivos em capital humano, como tecnologia e serviços especializados. Isso pode levar empresas a revisarem sua estrutura de contratação, reavaliarem preços praticados e até mesmo repensarem sua estratégia de crescimento com base na nova lógica fiscal.

2. Tributação no destino: complexidade para modelos escaláveis e digitais

Uma das mudanças mais relevantes da Reforma Tributária é a adoção da tributação no destino, ou seja, o imposto será recolhido com base no local do consumo do serviço ou produto, e não mais na sede da empresa prestadora ou no local de origem da operação.

Para empresas de tecnologia que operam de forma nacional ou até internacional, especialmente aquelas que atuam com modelo SaaS, plataformas digitais, e-commerce ou serviços online, essa mudança traz novos níveis de complexidade operacional e tecnológica.

Na prática, será necessário mapear com precisão a localização do tomador do serviço para determinar a alíquota correta do IBS, que será diferente para cada estado ou município conforme a fase de transição. Isso exigirá:

  • Atualização de ERPs e sistemas de emissão de notas fiscais, com integrações robustas e dados georreferenciados;
  • Adaptação de contratos e políticas comerciais, especialmente para clientes que compram via autoatendimento digital (modelo self-service ou assinatura);
  • Reestruturação de fluxos financeiros e contábeis para contemplar a apuração e recolhimento em múltiplas jurisdições, com diferentes obrigações acessórias e prazos;
  • Gestão de compliance em tempo real, para evitar autuações por erros na identificação do destino do serviço.

Esse cenário exige governança tributária apurada e investimentos em tecnologia fiscal, além de um cuidado maior com a experiência do cliente, que pode ser negativamente impactada se a carga tributária variar inesperadamente conforme a localidade.

Outro ponto sensível: para empresas que operam com bases centralizadas de dados e vendas automatizadas, como marketplaces e plataformas de serviços, será necessário repensar toda a lógica de roteamento fiscal e rateio de receitas, o que pode impactar margens, estratégias de precificação e até a definição de quais regiões a empresa deseja priorizar comercialmente.

Apesar dos desafios, há também oportunidades: empresas que investirem desde já na adaptação de seus sistemas e na revisão da arquitetura tributária terão vantagem competitiva ao garantir conformidade e eficiência desde os primeiros anos de vigência do novo modelo.

3. Créditos tributários: o fim da guerra fiscal e os ajustes necessários

A Reforma Tributária traz consigo o fim dos benefícios fiscais regionais, conhecidos como guerra fiscal, que durante décadas influenciaram diretamente decisões estratégicas de empresas, especialmente no setor de tecnologia. Incentivos como redução de alíquotas de ICMS e de ISS foram largamente usados para atrair investimentos para determinadas regiões, inclusive por estados e municípios que buscavam desenvolver polos de inovação e gerar empregos locais.

Para muitas empresas tech, esses incentivos impactavam diretamente na precificação, margens e estrutura de operação, como a instalação de data centers, centros de desenvolvimento e escritórios em cidades com regimes favorecidos. Com a unificação dos tributos e a tributação no destino, esses incentivos deixam de existir ou se tornam residuais — o que exigirá uma revisão profunda nos modelos operacionais e na gestão de créditos tributários.

Do ponto de vista prático, a mudança significa que as decisões estratégicas de localização deixarão de ter como critério a carga tributária, passando a depender mais de fatores como infraestrutura, disponibilidade de talentos, conectividade e proximidade com os centros de consumo. Isso pode beneficiar empresas que já operam de forma remota ou distribuída, mas impactar negativamente aquelas que estruturaram sua operação com base em incentivos locais.

Outro ponto crítico é que, com o novo modelo, o direito ao crédito passa a ser mais amplo, mas também mais padronizado e controlado nacionalmente. Isso exigirá um ajuste fino nos sistemas contábeis, especialmente em relação à correta classificação das despesas e insumos, para garantir o direito ao crédito. Muitos benefícios concedidos por legislações locais envolviam regimes especiais que agora deixarão de ser válidos, exigindo atenção ao que pode ou não ser aproveitado como crédito.

Além disso, empresas de tecnologia que prestam serviços em diferentes estados e em diferentes modelos (licenciamento, SaaS, prestação de serviço técnico) precisarão reavaliar sua estrutura de faturamento. A depender da forma como o serviço é entregue e consumido, a origem e o destino do tributo mudam, e a apuração correta passa a depender da configuração precisa do modelo de negócios e do compliance fiscal.

Nesse novo contexto, os ajustes necessários não são apenas técnicos, mas estratégicos. É o momento de rever políticas comerciais, reorganizar centros de custo, avaliar a terceirização de certas atividades, como data centers e infraestrutura, e principalmente, contar com parceiros contábeis e fiscais que consigam oferecer uma visão integrada entre compliance, tecnologia e estratégia tributária.

4. Incentivos e regimes específicos: e a Lei do Bem?

Um ponto ainda nebuloso é como ficarão os programas de fomento e incentivos específicos, como a Lei do Bem, a Lei da Informática e regimes especiais de ICMS. Haverá um período de transição, mas é importante acompanhar de perto como o novo sistema tratará projetos de P&D e investimento em inovação.

Empresas que contam com esses benefícios precisarão reavaliar seus projetos, formas de comprovação e estrutura fiscal. Também é importante monitorar os desdobramentos de regimes simplificados para startups e empresas de pequeno porte.

5. Hora de agir: planejamento e estruturação como diferencial competitivo

Apesar dos desafios, o cenário trazido pela Reforma Tributária também representa uma grande janela de oportunidade para as empresas de tecnologia que se prepararem com antecedência. Este é o momento de virar a chave: em vez de apenas reagir às mudanças, empresas visionárias usarão a transição como impulso para fortalecer sua estrutura e aumentar sua eficiência.

A boa notícia é que o DNA do setor de tecnologia já carrega a agilidade, o espírito de inovação e a capacidade de adaptação que serão essenciais para enfrentar esse novo momento. Aquelas empresas que já operam com ERPs atualizados, automações via RPA, integrações inteligentes entre sistemas, gestão contábil digital e parceiros de BPO especializados têm uma clara vantagem competitiva. Não apenas estarão mais preparadas para adequar suas rotinas fiscais e contábeis ao novo modelo, mas também conseguirão capturar ganhos de eficiência que farão a diferença no longo prazo.

É também o momento ideal para revisar profundamente sua estrutura societária, o modelo de contratação de serviços e fornecedores, a utilização estratégica de créditos tributários e o posicionamento fiscal da operação como um todo. O novo regime, ao padronizar regras e eliminar incentivos regionais, também dá mais previsibilidade para quem faz um bom planejamento tributário, dentro da legalidade, e busca segurança jurídica.

E aqui, a escolha dos parceiros certos faz toda a diferença. Contar com um BPO contábil e tributário que entenda as especificidades do setor de tecnologia, que já opere com alto grau de automação, e que atue como aliado estratégico — e não apenas operacional — pode ser o diferencial entre apenas “cumprir obrigações” e gerar valor real a partir da conformidade fiscal.

Empresas que se anteciparem, investirem em planejamento e buscarem apoio estratégico estarão mais preparadas para a nova realidade tributária brasileira.

Sua empresa já está se preparando para essa mudança? Fale com um especialista da Bernhoeft e conte com quem entende do seu setor.